Lucio Costa e políticos
A localização das associações de moradores nas entrequadras, por exemplo, não apenas contribuiria para o grupamento das superquadras em unidades de vizinhança, como poderia ser o embrião de uma nova modalidade de participação comunitária na administração da cidade.
“Nas circunstâncias atuais, acho que a criação de
uma Câmara de Vereadores aqui seria um desastre, porque desvirtuará com a maior
facilidade a idéia, o que ainda sobrou da concepção de Brasília. Vão surgir imediatamente proposições
de quebrar as quadras, mudar o gabarito, aquelas coisas todas que nós sabemos como
ocorrem. Mas, por outro lado a população tem que participar, ser dona da cidade. Seria
interessante criar uma ordenação de convívio, em que Brasília e as satélites, divididas em áreas,
tivessem associações de moradores que, legalmente, rotineiramente, através de comissões de cinco ou
sete representantes, tivessem oportunidade de contacto com a autoridade, para articular as
suas reclamações e ouvir o que o Governo está pretendendo fazer.
Na capital da República,
caso único, acho que o Governador deve ser escolhido pelo Governo Federal, porque se o
Governador é eleito, aí é aquela enxurrada de interesseiros que, depois de eleitos, começam a
facilitar a vida dos amigos. É uma coisa bem intencionada, mas é um perigo. Fico apavorado
quando falam nisso”
(Lucio Costa, entrevista ao Jornal do Brasil, Brasília,
novembro 84).