Carta que o CCAS enviou ao Governador de Brasília

Crt.008/2007 – CCAS Brasília(DF), 18 de julho de 2007



Exmo. Sr.
Dr. José Roberto Arruda
DD. Governador do Distrito Federal



Senhor Governador,




Confiante no apreço e respeito que V.Exa. sempre demonstrou às lideranças comunitárias, gostaria de, respeitosamente, solicitar sua atenção a algumas questões aqui expostas, relativas à publicidade no âmbito do Distrito Federal, mais especificamente na Área Tombada e nos Lagos Sul e Norte que, por serem importantes áreas limítrofes ao Plano, são abrangidas pela Lei 3035/02.

Faço registrar a nossa preocupação pela maneira como esse assunto vem sendo tratado por órgãos de seu governo, assim como causou-nos estranheza que na qualidade de representantes legítimos da sociedade civil organizada, tenha nos faltado a oportunidade de participar das recentes discussões sobre o Plano Diretor de Publicidade que culminaram com a publicação no DODF no dia 13 próximo passado, de uma nova versão da Regulamentação da referida Lei.

Na verdade, desde os tempos de sua campanha pleiteando o comando dos destinos da capital do Brasil, até a presente data, temos testemunhado seus diversos pronunciamentos sobre a questão da excessiva publicidade no DF e de sua ferrenha vontade de erradicar esse câncer que agride a cidade e sua paisagem urbana. A modernidade de Brasília assim o exige, assim como o bom senso e a consciência de seus governantes e moradores.

Ademais, somam-se às suas declarações, as da SEDUMA, que desde o início do ano declarou que o GDF estaria preparando uma nova legislação sobre esse assunto. No entanto, nunca imaginamos que o órgão de seu governo, responsável pela elaboração dessa nova legislação, apenas se preocuparia em ratificar os erros da uma lei equivocada, repleta de imprecisões, lacunas e vícios, mesmo após tantas manifestações da mídia e dos moradores da cidade contra a vulgarização da paisagem urbana que se assiste na cidade e que agora, mais do nunca, esperavam uma ação firme do poder público.

Senhor Governador, cabe-nos lembrar a V.Exa. que se assim permanecer, o GDF continuará admitindo, mesmo que com algumas novas e tímidas restrições, outdoors e outros elementos de publicidade em:

Ø lotes públicos, privados e áreas públicas,
Ø lotes não edificados,
Ø áreas de circulação de pedestres,
Ø estacionamentos públicos,
Ø áreas ambientais protegidas(com que finalidade?),
Ø empenas cegas,
Ø marquises,
Ø castelos d’água, silos,
Ø tapumes,
Ø mobiliário urbano como bancas de jornais, pontos de táxi e outros
Ø canteiros de obras,
Ø cercamentos,
Ø equipamentos utilizados nas atividades de ambulante,
Ø escolas,
Ø estandes de vendas,
Ø faixas de domínio das rodovias, inclusive nos canteiros centrais,
Ø veículos automotores portadores de propaganda, estacionados em logradouros públicos que lá fiquem por até vinte e três horas e cinqüenta e nove minutos (como não são permitidos por mais de 24 horas, imaginamos que o último minuto seja reservado para que uma onipresente fiscalização possa alertá-los sobre a possibilidade de transgressão à Lei).

É esse o seu desejo, Governador? Agravante ainda maior, é que tudo licenciado, (será que de forma regular?) e instalado até 23/11/02, terá 3 anos para se adequar a Lei 3035/02 e a este novo Decreto, prazo contado somente a partir de 8/03/06.Vislumbra-se, então, que lá pelos meados do ano de 2009 poderemos(?) ter a esperança de uma tênue mudança na presente situação. Pelas suas diversas declarações na imprensa sobre o assunto em pauta, é evidente que essa demora não fazia parte de seus planos.

Permita-nos chamar sua atenção para a falta de cuidado na revisão do texto publicado no DODF, pois no artigo 6º o número referente à Lei 3035/02 está equivocado, assim como em algumas das planilhas que também apresentam data retroativa à sua publicação. O fato do artigo 25 desse novo Decreto, estabelecer 250m para o espaçamento mínimo entre os outdoors nas faixas de domínio, pode torná-lo objeto de um questionamento judicial tendo em vista que ele altera o que está determinado pelo artigo 26, parágrafo único, da Lei vigente, o que é irregular.

Cabe-nos pedir licença para levar a V. Exa uma pergunta que não quer calar: a quem está interessando tudo isso senão a uma pequena minoria gananciosa, totalmente descompromissada com a cidade? Será que seremos sempre submissos a esse cartel da publicidade?

Sem dúvida alguma, Brasília, pelas suas características, deve merecer um tratamento diferenciado e tendo a certeza de ser essa a sua disposição, aproveitamos o ensejo, para lembrar também que não menos importante para a cidade seria a retirada imediata de todos os gradis de proteção de pedestres pois é visível que a maioria não atende à sua finalidade precípua. Mesmo procedimento poderia ser adotado na retirada de determinado modelo de lixeiras que só se prestam para divulgação de propaganda em suas 4 faces. De acordo com as declarações do Administrador do Plano Piloto, todos esses elementos encontram-se com suas licenças já vencidas.( fotos anexas)

Portanto, Senhor Governador, esperamos estar contribuindo com V.Exa. em transmitir-lhe não somente a minha, mas a decepção e o inconformismo de toda uma população com a complacência com que essa questão, que tanto nos tem afligido ao longo dos últimos oito anos, tem sido tratada e o receio de que ela ainda possa se arrastar por, no mínimo, mais três e quem sabe para sempre, não nos permitindo vislumbrar onde vai parar essa indesejável espiral.

Anexamos à esta correspondência, cópias de matéria de jornal sobre a cidade de São Paulo e de um artigo do empresário Antonio Ermírio de Morais, publicado no Jornal do Brasil de 11/07/07, que trata das ações da Prefeitura local, com a promulgação da chamada Lei “Cidade Limpa” . Se o sucesso foi evidente em uma metrópole como São Paulo, porque não ousar em Brasília, uma jovem cidade com 47 anos e que detém um título que a diferencia de todas as cidades comuns, lhe garantindo a estética da paisagem urbana?

Caminhamos, Governador, para os 50 anos de Brasília. Temos a certeza de que essa é a hora oportuna para devolver à Brasília a visão de seu horizonte, de sua arquitetura arrojada.

Hora de resgatarmos desde já a dignidade de uma cidade hoje tão agredida e desrespeitada. De mostrar ao Brasil e ao mundo, que uma gestão moderna, honesta, ousada, sem paternalismos, é capaz de garantir para as futuras gerações uma obra de arte exemplar, idealizada e executada por dois grandes homens: o presidente Juscelino Kubitschek, que teve a ousadia de fazer nascer do nada o projeto do mestre Lúcio Costa, que no cruzar duas linhas, desenhou um jeito novo de viver, onde o céu seria a prioridade, livre de outdoors, backlights, frontlights. Onde não veríamos pichações, cartazes e plaquinhas poluindo os postes, as paredes, os viadutos, os pontos de ônibus. Onde calçadas decentes, limpas, pertenceriam aos pedestres, livres de mesas, cadeiras, camelôs, ambulantes, vendedores de galinha assada e quiosques de lata. Ou será que nós precisaremos esperar mais de 400 anos para que isso se torne uma realidade?



Respeitosamente,


Heliete de Almeida Ribeiro Bastos
Presidente do CCAS