Quadras 700: negociações iniciadas há um ano voltam à estaca zero

Do CorreioWeb
10/08/2006
19h45-A polêmica das grades nas quadras 700 está dando o que falar. Em mais uma reunião nesta quinta-feira, moradores e autoridades não conseguiram chegar a um acordo e decidiram começar do zero as negociações. Dois encontros já estão marcados para a semana que vem. A estratégia agora é bater o martelo naquilo que é consenso e discutir melhor com a comunidade os impasses.


As divergências se concentram na questão das grades entre as casas, as chamadas “oitões”. O presidente do Conselho Comunitário da Asa Sul, Ricardo Pires, acredita que é preciso coerência na tomada de decisões. “Se vai ser permitido colocar grades nas casas de esquina, por que vai ser diferente nas que não são? Qual o critério?”, qüestiona.


Os moradores que defendem as grades alegam que elas são fundamentais na segurança do imóvel. “Todos precisam de segurança. Não é só quem mora nas esquinas”, diz Pires. Para ele, vai ser preciso ouvir mais a comunidade e rever os pontos críticos.


Em reuniões anteriores, ficou acordado que as grades frontais das casas poderão permanecer, desde que tenham até cinco metros de distância, a partir do limite do lote. Pires defende mais meio metro nessa distância. “Com isso, poderemos atender cerca de 51% dos moradores. É uma diferença tão pequena”, argumenta.


O professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) José Carlos Coutinho é contra os “oitões”. Para ele, as grades estreitam a passagem dos pedestres e causa temor e constrangimento em quem transita a pé pelas quadras. “Só se pensa na segurança do morador e se esquece da segurança dos pedestres”, comenta Coutinho, que também é membro da Gestão de Preservação de Brasília (Conpresb).


Na opinião do professor, a colocação de grades em alguns pontos das 700 afeta o status internacional que a Arquitetura e o Urbanismo de Brasília possui. “Alguns trechos estão um horror”, afirma. As cercas que invadem o espaço público nas quadras 700 infringem o tombamento de Brasília e o Plano Diretor da cidade.


Já faz um ano que moradores, representantes da Conpresb e da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) discutem a melhor forma para solucionar o problema. A negociação é tensa e delicada. A maioria das 2.824 casas das quadras 700 está em situação irregular. Segundo dados da Seduh, mais de 90% das casas invadiram esquinas, 80% invadiram entre-blocos (os oitões), e mais de 98% expandiram as grades na parte da frente das residências.


Os moradores justificam a necessidade das cercas por causa da violência. Eles também se sustentam na Lei Distrital 532/93 que permitia o uso de grade nessas quadras, apesar de a norma ter sido considerada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF), no ano passado.



Urbanismo
Cercamento nas 700 ainda sem definição


Como padronizar o cercamento das casas nas quadras 700 foi tema de mais um debate entre integrantes do Governo do Distrito Federal e moradores do Plano Piloto. Na tarde de ontem, a secretária de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh), Diana Motta, reuniu-se com integrantes do Conselho de Gestão da Área Tombada de Brasília (Conpresb) e líderes comunitários para discutir a questão. O encontro não resolveu impasses antigos, como o cercamento na lateral das casas, a altura das grades e o quanto de área pública elas podem ocupar. Ficou definido, porém, que o grupo discutirá o problema das grades duas vezes por semana até o dia 6 de setembro, data em que acontece a próxima reunião do Conpresb. “O debate foi muito proveitoso. Concordamos em descartar da pauta os pontos já acordados e especificamos o que precisa ser discutido com mais urgência”, afirmou Diana. Os dois encontros da próxima semana acontecem na quarta e na sexta-feira, das 15h às 17h30, no prédio da Seduh, no Setor Comercial Sul.