VLT - Questionamentos do morador Marcel Camargo

Oi Fernando, tudo bem?!



Nós nos conhecemos na apresentação realizada no Instituto Histórico e Geográfico do DF no dia 8 deste mês. Perguntei sua opinião sobre as árvores no centro da W3 e etc.


Antes de mais nada, aproveito a oportunidade para desejar-lhe boa sorte e firmeza neste desafio pois, por mais trabalhoso e detalhista que seja, lidar com estruturas materiais e sociais é sempre um grande feito.


Saiba que a sociedade civil está ansiosa e animada por esta inovação, mas não muito motivada, tenho que admitir. A preocupação maior é sobre a clareza na disponibilidade dos fatos. As pessoas têm medo de mau uso evidente e inescrupuloso de verba pública e ninguém quer mais saber de obras feitas pela metade, ou mal feitas (O DF tem um pequeno histórico disso. Guardadas as devidas proporções, é possível aos poucos, reverter esse cenário, portanto que exista respeito com o povo e publicidade honesta e periódica dos atos).


Não é culpa sua, mas de tanta insatisfação nesse sentido, o Ministério Público e a opinião pública (pela mídia e por alguns centros de debate como aquele que você participou) já está armando uma “tremenda barulheira”, no bom sentido, é claro. Acho que tudo será resolvido se o Governo se alinhar com o Estado sem querer dar uma de “malandrão” pra cima da sociedade; o Governo tem de ser mais positivo nesse sentido... se é possível ou não, é muito difícil pra nós definirmos isso no momento; isso já é uma outra história... Digamos que o Sr. enfrenta batalhas constantes ai no canteiro de obras e nós, que nos esforçamos para defender e preservar o máximo possível a cidade, enfrentamos outras aqui fora... mas no geral, o VLT só vem a acrescentar.




Gostaria de fazer duas colocações que considero pertinentes e, se o Sr. achar que faz sentido, avalie-as.




1) Quando me referi às arvores naquele dia, sabia desde o início de sua finalidade (de tentar “esconder” a fiação aérea, pra ficar mais vistoso o percurso...; de promover uma interação com o verde (e com a água) num local onde terá muito metal e que hoje já tem muito verde...; de tentar simular algo parecido com o que acontece em outras cidades, como Paris, Madri...; de demonstrar engajamento em replantar espécies nativas, pra dar mais credibilidade ao projeto...; de tentar diminuir a “distância” do veículo para as pessoas, e torná-lo mais afável...). Em contra partida, as barreiras são enormes: 1º - convencer o povo de que vai acontecer, de fato, a erradicação de 1.800 árvores (independentes se são nativas ou não) e o plantio de + ou - 10.000 em locais já definidos, que sejam os mais próximos possíveis de onde uma vez elas existiram; 2º - o fato do clima de Brasília não ser o mesmo que da Europa, fazendo com que, às vezes, espécies que lá vingam com copas altas, troncos retos e raízes bem profundas, possam aqui, não crescer direito ou ter raízes que se elevem em sua corola e ao seu redor, ou espécies nativas do cerrado possam se contorcer, para mais ou para menos, ou suas raízes podem ser bem profundas – como devem ser, mas em um ou outro caso, elas possam se apresentar mais superficiais, considerando que elas “sabem” se estão na vastidão do cerrado, precisando buscar água o mais fundo possível ou numa zona transformada onde a capacidade hídrica, como um todo, é maior e não há tanta necessidade de aprofundamento de sua raiz; 3º - o espaço físico em questão é muito menor que o espaço físico de Paris, por exemplo. Lá, se não estou enganado, onde tem árvores paralelas aos trilhos, o espaçamento é com uma margem “de respiro” bem segura (e definitivamente, árvores possuem raízes bem profundas, porque os europeus jamais correriam o risco de ter prejuízo em longo prazo num projeto grandioso por causa de raízes, galhos, folhas ou troncos retorcidos e não previstos). Aqui, se o projeto for manter as três vias de automóveis de cada lado da W3 e no centro dos dois trilhos tiver as estações de embarque e desembarque, o espaço entre os trilhos e a rua (que vai precisar ter uma mureta porque o Sr. sabe como brasileiro é, algumas gramas e árvores) é de aproximadamente 1 metro. Ou seja, em mais ou menos um metro de largura, será possível elevar uma mureta (com ou sem alambrado), plantar grama (artificial ou natural), plantar árvores (nativas ou não) e garantir que isso seja viável em longo prazo? O espaço central da W3 é muito estreito; se a prioridade, para o sucesso do projeto, é estruturar bem os trilhos e o veículo, a preocupação maior deve ser nas estações, com a segurança de quem embarca e desembarca e de quem está trafegando de carro na via, e não com estética. Porque convenhamos, se há lugares para se plantar as 10.000 árvores que estão previstas no reflorestamento, as árvores rentes ao VLT serão puramente estéticas. Talvez plantar palmeiras seja uma boa opção, mas seu crescimento atrapalharia a fiação do mesmo modo que as outras.


A questão ambiental nessa área é muito importante, mas será pior ainda, se às vésperas da inauguração, o povo constatar que não tem árvore nenhuma porque a supervisão técnica da obra constatou que não seria viável, afinal, plantá-las; e pior ainda, com aval do IBRAM! Ou seja, vamos imaginar 5 anos na frente (em 2014): custe o que custar o veículo será inaugurado, sabemos disso; uma nova interface na W3 será criada e o que fora previsto, pode ser que caia no esquecimento e virou coisa do passado, pois considerando as variáveis, não plantar árvores foi a melhor opção encontrada.


Deve existir um plano B. Se não existe, é bom bolar um que não contemple as árvores. Não tem problema, o objetivo final é o projeto bem executado e o estímulo à revitalização da W3, não é verdade? Pelo menos, esse foi o peixe que o Governo vendeu. Eu particularmente não acredito ser viável o plantio de árvores (independente de suas espécies) ao longo dos trilhos, no lado externo. E acho que sem fica bem melhor. Fazer as estações no centro, com passagens seguras para os pedestres atravessarem a rua dos dois lados, já será um desafio e tanto. Gramas e/ou pequenos arbustos ou um paisagismo com pedras, concreto e plantas de pequeno porte ai sim. Mas árvores mesmo, com um porte considerável, a ponto de suas copas cobrirem a fiação, ai não... Para o Sr. ter uma idéia, a nossa nobre NOVACAP mau dá conta de atender as solicitações urgentes (de pessoas físicas e jurídicas) de podas de árvores e de raízes (com riscos iminentes de prejuízos a vidas e propriedades) em áreas prioritárias do DF; imagine para o VLT... Foi por isso que perguntei sua opinião naquele dia. Sei que o Sr., como engenheiro, é um defensor do projeto e vai executá-lo da melhor forma possível até o final, mas existem coisas que o Sr. acredita e outras que não...




Pois bem, existe uma outra colocação que gostaria de fazer também:




2) É referente à estação do Pátio Brasil.


Esta estação, depois dos “futuros” Terminais de Integração Sul e Norte (localizados nos extremos das “Asas”), é a mais importante. Ela é praticamente uma rodoviária; uma referência de localização que até os ônibus, turistas, comerciantes e comunidade em geral usam. A quantidade de pessoas que freqüentem o Setor Comercial Sul, o Setor Hoteleiro Sul, de Rádio e TV, de Hospitais (em menos proporção), Pátio Brasil, Venâncio 2000, Brasil XXI, e todos os outros centros comerciais que ficam, naquela área, entre o Parque da Cidade e a W3 é simplesmente impressionante. Não tenho dados aqui, mas é praticamente assustador em horários de pico! Fatos: 1º - garantido que, pelo menos, 70% dessas pessoas não moram em Brasília (moram em cidades satélites); 2º - a tendência é só aumentar e jamais diminuir a quantidade de pessoas que ali transitam e 3º - o VLT não desafogará nem um terço disso.


E não é pessimismo não, pois entendo que a idéia do VLT é não desafogar mesmo. Essa história de resolver aquele pequeno e sazonal “caos” já é outra história, já é de política territorial urbana, de transporte, meio ambiente e social do Estado. Mas o VLT vai ser útil para milhares de pessoas que precisam ir e vir do terminal integração da asa sul, vindo ou voltando de suas casas, e é aí que começa o drama; considerando que o maior contingente é justamente vindo de Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Vicente Pires e Águas Claras (todos desembocando no TAS de ônibus ou de metrô para, se possível, pegarem o VLT para o Pátio Brasil).


Aquela estação precisa ser enorme, grande mesmo, com segurança, infra-estrutura, ventilação, acessibilidade... Ela será a “menina dos olhos” na verdade (juntamente, num futuro próximo, com a do BSB Shopping). Acredito que será o grande desafio da engenharia de obras, (sem contar o trecho que passará sobre o córrego Riacho Fundo na travessia do zoológico), seja no controle do trânsito, seja em sua própria estruturação. Toda a opinião pública estará voltada para ela. Ela será subterrânea (diferente das outras), a quantidade de gente, de ambulantes, de “malandros” e resíduos será muito superior que qualquer outra; a atenção, os cuidados e a responsabilidade serão muito superiores, quase que imensuráveis nos dias de hoje, mas possíveis de serem estudadas aos poucos. Mas afinal, ninguém quer que as câmeras de segurança dali flagrem imagens como aquelas que ocorrem nos trens do Rio de Janeiro né?!? Ela não pode, de forma alguma, ser do tamanho, por exemplo, de uma estação do metrô convencional da asa sul, como na 108 sul. As escadarias devem ser largas, amplas, bem iluminadas. Imagine as pessoas descendo ali e esperando o VLT: não pára de descer gente; subir, não sobe ninguém. E a confusão, o empurra-empurra? E os limites de lotação dos carros? Vai precisar ter algum tipo de disciplina, de controle, para manter a calma ali embaixo em horários de pico. No futuro, com o Terminal de Integração Norte, no final da asa norte, que interligará os condomínios, Sobradinho e Planaltina (e tantos outros “bairros” que surgirão com certeza) a concentração de pessoas será muito maior dos dois lados.




Enfim,


O VLT vai cumprir sua função, conectando o aeroporto e a W3 Sul e Norte, com foco nos comerciantes, moradores locais e turistas. Com ou sem árvores vai ser interessante, prático e moderno. Vai servir como referência para outros estados e vai ajudar, em tese, a amenizar uma questão de transporte alternativo aqui para a classe média. Mas construir uma estação no Pátio Brasil, aos moldes da do metrô será um tiro no pé. Um projeto vultuoso e permanente como esse, com tantos conflitos sociais, falhas de propaganda e na corrida contra o tempo, tenho certeza que a estação do Pátio não pode ser um detalhezinho. Essa estação precisa ser especial.




No mais é isso. Espero que sejam válidas essas colocações e espero que o projeto corra de forma inteligente e célere.




Obrigado pela atenção




Abraço




Marcel Camargo


Asa Sul